[1] Missão Narrada - Ethan Slowan

Meus passos são lentos, assim como o ritmo com que o ar entra e sai de meus pulmões. Sigo em frente com uma expressão pensativa desenhada em meu rosto, com o olhar alternando entre todas as portas. "Uma, duas, três.", começo a contá-las e apenas paro quando a contagem alcança o número dezesseis. "Haja portas."

Então ergo o braço direito e permito que meus olhos repousem sobre o pequeno objeto metálico entre meus dedos. O prego é pequeno, aparentemente comum. Talvez útil, se eu for capaz de descobrir algum meio de usá-lo ao meu favor.

No entanto decido deixá-lo de lado por enquanto, de modo que o coloco no bolso traseiro da calça. Giro e volto a andar, porém agora na direção contrária. Tento perceber alguma sequência por trás da numeração das tábuas de madeira que impedem que eu siga em frente em minha missão e, sem seguida, paro frente à de menor número.

"É estúpido, eu sei, e provavelmente não vai me ajudar. Mas ainda é uma tentativa."

Fecho meus olhos e me concentro na escuridão que passa a me envolver, substituindo rapidamente a visão pela audição. Foco minha mente nos sons que alcançam meus ouvidos e imagino ondas sonoras percorrendo todo o corredor cada vez que ouço o estrondo causado por um trovão lá fora. Imagino essas ondas sendo direcionadas apenas para a porta em minha frente e, aos poucos, começo a aumentar sua intensidade. O objetivo? Alcançar um nível de decibéis equivalente ao número escrito sobre a madeira.

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Meu olhar percorre toda a extensão da sala da forma mais rápida possível, conferindo a inexistência de perigos antes que eu possa voltar minha atenção completamente aos três objetos. E é isso que faço. Arrisco-me a entrar na sala e, após ver que nenhuma explosão acontece quando meu pé direito toca o chão da sala, dou alguns passos. Ando ao redor da mesa com a cabeça virada para baixo, de modo que observo alternadamente minhas três opções.

É idiota, eu sei, mas pegar a chave parece algo obvio demais. A espada é grande e algo com o qual não sei lutar, o que a torna inútil e faz com que a faca seja a principal candidata. Mesmo assim, decido contar com a sorte, de modo que ergo minha mão direita e aponto para os três itens, fazendo o tão famoso uni duni tê.

Sigo a direção para a qual meu dedo aponta ao cessar a "música" e sorrio, em seguida aproximando minha mão do objeto escolhido. Meus dedos envolvem o cabo da faca e eu faço alguns movimentos rápidos com o braço, ouvindo o som da superfície metálica e afiada cortando o ar. Ainda sorrindo, saio da sala e volto a caminhar na frente das portas.

Penso em diversos palpites lógicos, relacionando a quantidade de números que eu preciso à quantidade de portas para tentar descobrir qual é a próxima que eu devo abrir. Mas penso nos perigos que podem estar por trás das portas erradas e na adrenalina que eles podem me oferecer, de modo que, novamente, deixo-me ser guiado pela sorte.

Paro frente à porta de número 4, com a faca na mão direita e o prego ainda no bolso da calça. Respiro fundo e, por alguns segundos, penso se eu deveria usá-los de alguma maneira ou contar novamente com minhas habilidades relativas ao som. Escolho pela última opção e me concentro, prestes a usufruir de meu poder novamente.

Dessa vez, minha atenção é voltada exclusivamente para o som do vento soprando contra o vidro da janela. Relâmpagos, trovões. O som da tempestade passa a ser o único que escuto, tudo ao meu redor resume-se em um silêncio cortado pelos estrondos que alcançam o corredor. Ouço-os, intensifico-os e os direciono para a porta em meu campo de visão. Mas o som dos fenômenos naturais é, assim como os próprios fenômenos, algo tão forte que chego a pensar serem impossíveis de se controlar. Então puxo as ondas sonoras para meu redor ao mesmo tempo em que puxo ar para meus pulmões, soltando ambos simultaneamente.

Devido à intensidade do barulho, quando paro de contê-lo com meus poderes, deixo-o percorrer todo o corredor. E, apesar de grande parte do som ser direcionada à porta de número quatro, deixo que outra parte alcance as portas ao lado. "Qualquer porta que abrir é lucro", penso.

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Ver a porta quatro abrir-se é o suficiente para que um sorriso apareça em meu rosto. Diversas hipóteses sobre os perigos ocultos atrás da porta desaparecem tão rapidamente quanto apareceram, e por instinto eu fico em posição de batalha. Respiro fundo e encaro o vão da porta, observando o ambiente lá dentro.

No entanto, antes que eu entre na sala, a porta ao lado também abre. Ouço um som abafado, como se alguém tentasse falar ou gritar enquanto outro alguém tapa sua boca.

E, como se eu não estivesse indeciso o suficiente, vejo uma terceira porta abrir-se. Também há som ecoando da mesma, mas é um som um pouco mais baixo, seguindo uma frequência contínua como o de um relógio. Meu olhar alterna entre as três portas uma única vez, mas eu sei que não tenho tempo para buscar uma solução lógica.

Opto então por silenciar o som do cronômetro e intensificar o volume dos grunhidos abafados, seguindo apressado para a sala da qual o som sai ao mesmo tempo em que tento perceber algum erro ou irregularidade no som que revele uma armadilha. Empunho minha faca e me abaixo um pouco, tentando ser discreto e sutil ao entrar na sala. Paro no exato local que a porta ocupa quando fechada e olho atentamente para o espaço ao meu redor, preparado parar correr. Seja para salvar a vida de alguém, seja para ir para a sala com o som do cronômetro.

Tudo depende da veracidade do som abafado, e isso me deixa um tanto quanto intrigado. Mas todos os desafios recentes, o fato de eu estar trancado em um corredor do qual só posso sair com o uso de meu poder, toda essa mistura de adrenalina e perigo causa uma sensação boa em mim.

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Meus olhos quase que instantaneamente ficam arregalados, uma mistura de medo e susto mostra-se visível em meu rosto. Sinto um calafrio percorrer toda a extensão de meu corpo e fico paralisado por alguns instantes, ouvindo aquela voz misteriosa ecoar em minha cabeça juntamente com os sons abafados do homem que parece implorar por socorro. Um sentimento novo e confuso surge dentro de mim, e acho que é algo próximo do que os outros chamam de "compaixão".

Presto total atenção às palavras que sobrepõem os gemidos abafados que me trouxeram até a sala, absorvendo minha missão e entendendo um pouco mais sobre o que eu preciso fazer. Também procuro por pistas na fala do homem responsável por essa situação, qualquer coisa que me ajude de qualquer maneira.

"Seis números", repito mentalmente enquanto já começo a mover-me ágil e velozmente pela sala. Meus músculos e as engrenagens de meu cérebro movimentam-se em um único ritmo, sendo que, enquanto um permite que eu percorra pela sala vasculhando todo o espaço que me cerca e que meus olhos alcançam, o outro trabalha para decifrar o código.

Os números mais lógicos em que consigo pensar são os das portas que eu abri. Não são seis números, e isso me leva a acreditar que talvez eu devesse testar todos exceto eles. Uma ideia básica, um primeiro palpite apenas.

Mas... espero que, nesse caso, não custe nada tentar.

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