[1] One Post - Benjamin Beckham Jr.

Run,
Ben, run!

A vida, ou melhor, a prisão de Captus, é exatamente como um jogo de xadrez. No topo de tudo, com o papel de Rei, estão os “donos”, responsáveis pela iniciativa de prender os mutantes num único lugar. Na base intermediária, representados por bispos, cavalos e torres, diversos guardas espalham-se pela cadeia, buscando manter a ordem e proteger seus superiores de qualquer ameaça. Finalmente, na escala mais rasa, encontram-se os peões. Com a missão de trabalhar a serviço da realeza, essas nobres peças podem ser comparadas aos diversos presos que aqueles muros abrigavam.

No meio da partida, que aos poucos se revelava um verdadeiro caos, Benjamin – um peão – tinha acabado de ser realocado. Havia adormecido em sua cela graças a um forte sedativo e quando deu-se por si novamente, tudo que ouviu foram buzinas e propagandas, sons característicos de avenidas movimentadas; como era o caso da qual ele se encontrava. A Times Square sempre foi um dos locais preferidos do jovem, costumeiramente visto comprando bebidas pela calçada. Uma vez que sua vida já não era mais sua, Ben desconhecia o motivo de estar ali; quer dizer, aquela era uma das regiões mais seguras da cidade, policiais espalhavam-se aos montes pela calçada. Eis que de repente, no telão central do coração dos Estados Unidos, um encapuzado anuncia a existência de uma bomba em algum ponto da metrópole. Como se isso já não fosse ruim o bastante, o sujeito misterioso ainda revelou que a explosão iria ocorrer em exatos 60 segundos.

E de repente, tudo fez sentido.

Apenas um super-velocista seria capaz de encontrar e sumir com o explosivo num intervalo tão curto de tempo. E era aí que nosso herói se encaixava. Agraciado com uma rapidez muito acima do normal, ele talvez conseguisse ter sucesso nessa que parecia ser uma missão suicida.

O mutante fitou o cronômetro lá no alto, já havia desperdiçado 10 segundos no simples ato de pensar possíveis locais onde a bomba estaria. Havia infinitas possibilidades, New York era gigantesca, não facilitando em nada as buscas. Entretanto, depois de ponderar durante o tempo já citado, Benjamin delimitou dois alvos prováveis. O primeiro deles, a tão famosa Estátua da Liberdade. Recebida como presente dos franceses após as Treze Colônias tornarem-se independentes, ela seriam um local perfeito para o ataque, pois além de abrigarem diversos turistas, também era o maior símbolo da liberdade estado-unidense. A outra opção era o World Trade Center. Reconstruído depois da tragédia do 11 de Setembro, era igualmente ideal para a explosão, principalmente porque o edifício era uma clara história de superação dos americanos.

Diante de duas opções extremamente viáveis, ele optou pela segunda. Chute? Que nada, intelecto puro. Durante os breves instantes nos quais o encapuzado permaneceu no telão, o mutante percebeu que logo atrás dele, jazia um estandarte negro, com dizeres em árabe grafados na cor branca. Beckham conhecia aquela bandeira. Era a mesma que ele, com apenas 3 anos de idade, viu aos baldes na TV, naquele conhecido como o maior ataque terrorista na história da América. Aliado a isso, soma-se a última frase dita, ainda que ofuscada pelo som da multidão já desesperada: "Nós não conseguimos uma vez, mas desta vez, verão tudo desabar perante seus olhos." Porém, mesmo tudo isso não era o suficiente para que o moreno cravasse o paradeiro da bomba, afinal, seu palpite precisava ser certeiro; 0% de chance de erro.

Com 47 segundos no cronômetro, o velocista alcançou o edifício desejado, disposto a dar uma investigada na região. Ao chegar, não tardou em notar a grande concentração de pessoas espalhadas por todos os lados, ainda que estivessem ofuscadas por diversos balões vermelhos que decoravam o ambiente. O quê diabos era aquilo?

— Campanha de doação de sangue... — as palavras foram lidas numa pequena faixa que se estendia na entrada do prédio.

Grande conglomerado de indivíduos, um evento que pudesse funcionar como distração...Aquele certamente era o lugar perfeito para uma explosão.

Entretanto, a bomba poderia estar em qualquer lugar da edificação, ou mesmo em seu entorno. E agora, como determinar sua localização exata? Ben sempre fora um cara muito inteligente, capaz de sair de diversas situações difíceis com ideias brilhantes, mas havia uma coisa na qual ele era melhor: correr. E assim o fez.

Não podia dar-se ao luxo de gastar mais segundos pensando, o tempo era escasso e precioso. Além disso, aquela era uma área de busca relativamente pequena, ainda mais se comparada com a cidade inteira. Numa última tentativa de solucionar tudo por meio da mente, acercou-se de uma viatura policial parada ali por perto e, através do rádio, solicitou:

— Mandem cães farejadores para o 285, Fulton St, há suspeita de bomba, procurem em toda a região.

Revelar sua localização talvez fosse uma atitude premeditada, mas, devido ao nível de dificuldade da missão, toda ajuda era bem-vinda.  

Depois de desperdiçar 3 segundos com aquele simples ato, o jovem partiu em direção ao primeiro dos 104 andares que o aguardavam. Usando toda sua velocidade, revirou o térreo inteiro, não obtendo sucesso algum. Repetiu o processo no segundo, novamente sem êxito.  Continuou sua empreitada até por fim alcançar o último dos andares, com apenas 22 segundos restantes. Será mesmo que iria conseguir? Havia revirado milhões de caixas, gavetas, escritórios até finalmente chegar até a sacada; até o fim. Na beirada do edifício, sob a custódia de 2 homens armados com metralhadoras, uma pequena caixa repousava; só podia estar ali.

Derrubar os protetores suicidas do “pacote” foi fácil - Benjamin valeu-se do efeito surpresa e apenas os empurrou lá de cima - agora livrar-se do petardo, prometia ser bem mais complicado. Restando exatos 20 segundos para o pior acontecer, o garoto tocou o solo de novo, contendo aquela que poderia ser responsável pela destruição da metrópole debaixo de um dos braços. Quanta responsabilidade! O cansaço já transparecia no seu rosto cada vez mais tomado por uma vermelhidão notória, porém, era preciso continuar. Voltou logo ao seu ritmo frenético, indo em direção a praia de Manhattan, não podia desistir, não tão perto.  Enquanto corria, enxergava a maioria das coisas em câmera lenta, como se ele fosse a única coisa que se movesse normalmente. Carros, pessoas, objetos, nada se tornava um empecilho quando ele adentrava no seu modo mais rápido, algo simplesmente surreal. Percorreu a distância necessária em incríveis 7 segundos, avançando pelo mar durante mais 8, apenas para certificar-se que nada daria errado, abandonando o explosivo.  O atrito com a água diminuía um pouco sua velocidade, mas isso não o deteve, seguiu firme até o fim.

Estava feito.

Aproveitou o tempo restante afastando-se da explosão, desmontando assim que sentiu a areia fofa nos pés.

Era um herói nacional.

Dados do Prisioneiro: