[RP FECHADA] Largando a Solitária

Fazia um tempo que não via a luz do dia ou me socializava com alguém, tudo estava tão estranho e vazio, acreditava estar só, que simplesmente fui esquecida ou abandonada naquele confinamento, sufocante. Me recusei por vários dias em acreditar que Dimitri me largara ali sem explicação alguma, que escapara para sua tal liberdade sem nem olhar para trás. O que me mantinha sã e com esperança de voltar a ver o verde das árvores era aquele pouco alimento que chegava todos os dias no mesmo horário, não sei de onde ou por quem, apenas sei que a bandeja de comida estará sempre lá e se há algum alimento, há também alguém para fazê-lo e trazê-lo.

Mais dias se passaram, perdi a noção do tempo e do espaço, tudo o que via era a escuridão daquele quarto. Uma leve brisa perpassava por uma fresta acima no teto e aliviava o calor de todos os dias, não mais aguentava esperar ou ansiar por notícias ou castigo qualquer, só precisava ver o rosto de algum cativo, saber que tudo está bem ou que voltará ao normal. Meu refúgio era meu pensamento, costumava vagar pelos confins de minhas memórias e por um tempo esse era meu conforto.


Ouvia o batimento lento de meu coração, minha respiração era fraca e compassada, o toque gelado do chão em minha espinha fazia-me refrescar e sobreviver ao ambiente fechado e quente, trajava apenas meu sutiã velho e uma calça rasgada quando com um forte estrondo minha porta se abre e eu simplesmente ignoro pensando ser mais uma de minhas ilusões, ouço vozes e pés apressados e alarmados no corredor e continue inerte. No fundo alguém gritou - O sistema caiu, fujam todos - não sei o que aquilo queria dizer, apenas mantive-me ali, ainda acreditando ser só ilusão.

De repente, como há muito tempo não doía, minha cabeça começou a latejar e novamente as vozes que no passado mantiveram-se longe, voltaram a me atordoar, mas desta vez era diferente, pareciam leves e aliviadas. Meus olhos se abriram e fecharam imediatamente com a forte luz que o invadiu do corredor, minhas pálpebras queimavam, estiquei a mão na frente do rosto e caí na realidade de que tudo era verdade, pessoas corriam de um lado a outro. Coloquei-me de pé e vesti a camisa, arrastei os pés para fora da solitária e fui carregada por um bando de animais que me empurravam para fora daquele ambiente.

Estava confusa e não entendia o que estava acontecendo, tentei recuperar-me do baque e manter a calma, respirei fundo e aos poucos fui me controlando, procurei por Dimitri e nem um rastro seu encontrei, enquanto o buscava por entre as fendas mentais procurei também por respostas. Os pensamentos eram confusos e difusos, muitos saltitavam e gozavam de felicidade até que encontrei o X daquele alvoroço todo. Era hora de ir embora.

Minhas pernas correram para saída quando uma onda de emoções que pelo tempo de confinamento reprimi invadiram-me e fizeram-me parar. Esbocei um sorriso leve e fechei os olhos sentindo todos os aromas e odores daquele local, minha bochecha corou e minhas lembranças foram ficando mais claras à medida que o muro emocional foi se desconstruindo, de imediato uma voz bastante familiar em um sotaque bastante irritante resmungou, era ele. Concentrei-me em seus pensamentos e tentei vislumbrar onde estava. Seus sentimentos estavam confusos e estava tomado pela raiva, olhei ao seu redor e percebi a presença de 3 guardas que se preparavam para ataca-lo enquanto outros detentos corriam de um lado a outro tentando fugir.

Desesperadamente corri em sua direção no intuito de ajuda-lo, parei as costas de 2 dos guardas e concentrei-me em suas mentes sem que o rapaz pudesse me ver, aos poucos fui causando a sensação de derretimento de seus cérebros e pouco a pouco os homens saíram de suas posições de ataque e caíram, um deles chorava sangue enquanto o outro expelia um liquido viscoso de seus ouvidos. Meu corpo tremia e queimava, estava tão tomada por aquela onda de sentimentos que me deixei levar pela fúria que sentia por aquele local, lancei um olhar ao terceiro homem e fiz seu coração parar e voltar várias vezes em questão de 5 minutos. Um filete de sangue escorreu por meu nariz e senti meus joelhos encontrarem o chão, estava exausta e por aquele breve ataque esqueci-me de Dimitri.